Faia - Memórias Paroquiais


As Memórias Paroquiais de 1758 inserem-se numa prática setecentista de inquérito. Eram estes enviados para as periferias tendo como fito obter conhecimento do território sobre as questões inquiridas. Em geral, na primeira metade do séc. XVIII, quem respondia eram os párocos e assim aconteceu com o de 1758.

Em torno da terra gizaram-se 27 perguntas. Através das respostas é possível saber onde ficava situada, de quem era a jurisdição da localidade, qual a sua população, que título tinha o pároco e quantos eclesiásticos e respectivas rendas tinha a igreja; se havia conventos, hospitais, misericórdias, ermidas e romarias; se tinha alguma feira, privilégios e antiguidades, fontes ou lagoas, ou muralhas e castelo, bem como personagens ilustres. Perguntava-se também pelos serviços de correio, pelas produções da terra e pelos danos do sismo de 1755.

Quando os párocos eram prolixos, os textos constituem um excelente repositório sobre a zona. Uns copiaram de novos as questões, outros limitaram-se a responder de forma ordenada, mantendo o número da pergunta no seu texto. Outros redigiram um texto compacto sobre o inquérito sem assinalar as perguntas.

Ao todo a Torre do Tombo guarda 44 volumes de Memórias Paroquiais. O último volume equivale a um índice e os dois volumes que o antecedem reúnem reconstituições de cerca de 500 freguesias cujas respostas dos párocos nunca chegaram às mãos do compilador.

Fonte: Portugal 1758 Memórias paroquiais

Entre essas 500 freguesias encontra-se a Faia. Hoje as respostas a esse inquérito, passados 252 anos, constituem fragmentos da história da freguesia. È interessante que entre essas respostas o pároco inquirido faz referência à lenda da Faia.





Texto transcrito:

Faia

23 de maio de 1758


Por ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Provizor deste Arcebispado em que manda responder aos interrogatorios incluzos em vertude do coal respondo ao prmeiro:

1. Esta freguezia de Sam Thiago da Faia em que sou abbade, está situada na Provincia do Minho, do Arcebispado de Braga, comarqua de Guimarâis, termo e concelho de Cabeceiras de Basto.

2. Este concelho de Cabeceiras de Basto hé deSua Magestade Fidelissima.

3. Tem vezinhos noventa e nove e pessoas coatrocentas e dezoito.

4. Está situada em huma costa de frente do Norte e se descobrem della coazi todas as freguezias do concelho que distarão huma legoa.

5. Este termo como já dice hé de Sua Magestade Fedelicima; comprehende dezoito freguezias, nam sei os vezinhos que tem.

6. Está a igreja fora do lugar e tem lugares dezaseis, a saber: Covilham, Augueiros, Prezas, Nogueira, Candedo, Ribeiro, Outeiro, Porcarice, Faia, togais, Souto, Ribeira, Terças, Brea, Caza Nova, Johio.

7. O orago hé Sam Thiago. Tem a igreja sinco altares, o maior e os colatrais. Hum que hé de Nossa Senhora, outro do Nome de Deos e o outro de Santo Antonio e outro de Nossa Senhora na invocaçam do Rozario com huma irmandade do mesmo Rozario.

8. O parocho hé abbade de aprezentaçam do Serenissimo Senhor Infante Dom Pedro como Gram Prior do Grato e collado pello seu reverendo Provizor da cidade do Porto e o beneficio renderá coatrocentos e sincoenta mil réis.

9. Nam tem hospital, nem mizericordia.

10.Nam tem conventos.

11. Nam tem hospita, nem mizericordia.

13. Tem as ermidasseguintes: Nossa Senhora do Amparo situada em hum monte que pertence ao capitam maior deste concelho Manoel Balthazar de Abreu de Lima; a de Santo Antonio da Covilham que hé do mesmo povo e está fora do lugar; a de Santo Antonio da Ribeira que hé de Leandro Machado e está contigua à sua caza; e a de Nossa Senhora da Piedade que hé de Francisco de Moura Coimbra e está contigua à sua caza.

14. Nam tem estas capelas romarias certas.

15. Hé mais abundante de vinho, fruta e azeite do que de pam.

16. Tem esta terra juiz ordinário e camera.

17. Nam hé couto, nem honra, só cabeça do concelho.

18. Nam sei que florecessem nella mais do que o Excelentissimo Senhor Condestavel Nuno Alves Pereira que morou na freguezia de Santa Marinha de Pedraça.

19. Tem este concelho a feira do Sam Migel a vinte e oito de Setembro que dura três dias. Tem mais em o lugar de Olelha […] da freguezia de Santa Senhorinha huma feira pella Santa Catherina que dura hum dia e outra a catorze e a quinze de Dezembro que dura dois dias e outra dia de Sam Mathias a vinte e coatro de Fevereiro que dura outros dois dias e huma em Março a vinte e outra em Abril a vinte e sete. Tem mais a vinte e hum e vinte dois de Julho a feira do Sam Thiago que hé fora [por forra] e as outras assima cativas. E na cabeça do concelho tem feira todos os mezes aos dois dias que hé forra.

20. Tem correio que chega na Terça Feira e parte na Quinta.

21. Dista da cidade de Braga capital do bispado oito legoas e sessenta à de Lisboa.

22. Nada.

23. Há ao pé desta igreja hum ribeiro em que em dia de Sam Thiago que hé orago concorre munta gente a tomarem vichas para sararem de varias infermidades. E hé tradiçam antiga que só naquelle dia se achavam no dito ribeiro que se chama de Sam Thiago.

24. Nada.

25 Nada.

26. Nam houve roina no Terremoto nenhuma. E dos mais interrogatorios nam há mais que dizer por não ter esta freguezia serra nem rio de que se faça mençam. Hé o que passa que eu tenho noticia. S. Thiago da Faia 23 de Maio de 1758. O abbade João de Lima Lobo de Noronha. O Parocho de S. Martinho do Arco, Henrique de Souza Lobo circumvizinho do reverendo abbade de S. Thiago de Faia. O abbade Manoel Ferraz Ribeiro.


Referências documentais:

IAN/TT, Memórias Paroquiais, Vol. 15, memória 6, pp.24. – Tombo da igreja. 1548, 4 277v. – Obrigação à fábrica da ermida de Santiago, 1564, cx. 251, 30. – Obrigação à fábrica do Santíssimo Sacramento a favor dos moradores, 1727,76, 56v.